quarta-feira, 7 de maio de 2003

O meu amigo Miguel

É um romeno de 53 anos que deixou tudo para trás para vir trabalhar em Portugal. Levanta-se às quatro da manhã para ir carregar porcos e trabalhar no campo, entre outras coisas. Ganha 500€ por mês que são esticados entre Vendas Novas e a Roménia. É soldador, dos bons, mas ninguém lhe dá trabalho nisso, só nos porcos. Vive numa casa vazia, sem televisão nem telefone. Tem uma mesa, um fogão tipo campismo, uma cama velha, com 2 cobertores velhos. A casa é fria, mas não vi aquecedores. Está isolado num monte alentejano.
Miguel ou Mihai, recebe durante o mês de Maio a visita da sua esposa Maria, a qual não via para mais de um ano. Está contente, ela traz notícias frescas dos filhos, dos amigos, da família, da igreja. recebe-me no seu quarto, e entre duas fatias de Salame (feito pela Maria) e um copo de Cola do Lidl, falamos de nós, da vida, de Deus. E os olhos do Miguel brilhavam enquanto se esforçava para que o entendesse no seu português autodidata « eu trabalha muito, não tem tempo para estudar ». Olhando para o álbum de fotos que trouxeram da Roménia, vejo o casamento da filha, a sua vivenda de dois andares, os amigos, os filhos, a igreja cheia, e fico a pensar: o que é que faz esta gente aqui?
De facto, penso que o velho ditado «quem vê caras não vê corações» ganha cada vez mais significado nos tempos em que vivemos, baralhados pelo engano das "aparências".
Por detrás do saco do Lidl, o Miguel é apenas mais um «emigrante de Leste», mas para mim, é um amigo, um irmão em Cristo e um grande homem.

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