quarta-feira, 18 de maio de 2005

A Ponte da Vergonha

Já se passaram trinta anos sobre o início da chamada "Ponte Aérea", o evento que marcou a descolonização portuguesa das províncias ultramarinas. Este é mais um dos eventos da nossa história sobre o qual paira apenas uma imagem baça e distante. E não me espanta que assim seja. Portugal tem muito do que se envergonhar pela forma como os seus governantes conduziram este processo. Da teimosa isolacionista e medieval de Salazar, até ao laxismo socialista e marxista do pós 25 de Abril, todos têm a sua quota parte de responsabilidade. Responsabilidade em quê? Na destruição de milhares de projectos familiares construídos ao longo de toda uma vida; na quebra dos laços familiares; no desenraizamento dos que voltaram ou fugiram; no abandono a que votaram os que cá chegaram relegando-os para guettos suburbanos, comprometendo assim as aspirações das gerações futuras; na forma cobarde como se esquivaram das obrigações ao nível dos cuidados básicos como a alimentação ou abrigo.
Tenho como prova os meus avós que chegaram apenas com a roupa do corpo, a dificuldade de adaptação dos meus tios e pais a uma sociedade fechada e retrógada, a casa sem portas nem sanita que eles foram forçados a assaltar, as semanas passadas na cruz vermelha à espera de um pedaço de pão e alguns cobertores, os insultos e a descriminação quando passavam na rua.
Foi uma ponte, sim senhor, mas de vergonha. Espero que um dia haja coragem para se falar abertamente destas feridas que tardam em sarar.

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