quinta-feira, 30 de abril de 2009

Para alguns, um texto longo, tendencioso e que só "vê" um dos lados da questão. Para mim, esclarecedor. De qualquer forma, leiam.


Israel aos 61 anos

por Ehud Gol - Embaixador de Israel em Portugal

Israel celebra o seu 61.º aniversário. O nascimento do Estado de Israel em 1948, apenas três anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, constituiu uma ocasião extraordinária, semelhante a um milagre. Uma pequena comunidade de 600 000 pessoas, rodeada de inimigos, enfrentou com suprema bravura os que tentaram destruí-la e ganharam a sua independência pagando o pesado preço da morte de 1% dos seus filhos. Muitos deles, rescaldo do Holocausto, haviam encontrado refúgio na terra dos seus antepassados.
O Estado de Israel não nos foi oferecido numa bandeja de prata. O retorno à terra, depois de dois mil anos de exílio e perseguição, foi manchado de sangue enquanto os nossos vizinhos, que não aceitavam a nossa existência, obrigaram-nos a guerras consecutivas. Porém, não tomámos a nossa existência como garantida. O nosso maior desafio, desde o início, foi a transformação da Mátria dos judeus de todos os cantos do mundo. Nesta tarefa fomos mais bem-sucedidos do que nenhum outro país. Fazendo perigar a sua própria vida, os judeus emigraram de países dispersos, em vagas de emigração de mais de uma centena de diásporas: refugiados descamisados vindos de Estados Árabes, logo nos primeiros anos da nossa existência; judeus perseguidos da Europa de Leste, nos anos 50; nos anos 70 e 90 da antiga URSS; nos anos 80, da Etiópia, numa extraordinária operação.
Conseguimos criar, com todas as diferenças de culturas, línguas e estilos de vida, um mosaico de gente orgulhosa e plena de amor incondicional ao seu país e nação. Juntos, conseguimos desenvolver um país cujo tamanho é um quinto de Portugal, metade do qual é um deserto, uma agricultura avançada graças aos kibbutzim que personificaram os mais elevados valores morais; medicina e ciência de ponta, cultura florescente, literatura, poesia, música; tudo isto num país que hoje tem sete milhões de pessoas, 20% das quais são cidadãos árabes.
Desde o primeiro dia que o Estado de Israel inscreveu na sua bandeira um verdadeiro anseio de paz com os seus vizinhos, o qual nos possibilite viver uma vida serena como os demais povos. O nosso sucesso, até agora, tem sido parcial. Há já trinta anos que temos paz com o Egipto, o maior e mais forte país do mundo árabe, o que corresponde a metade da vida de Israel. Há dezasseis anos atrás, assinámos um acordo com a OLP, o mais amargo dos nossos inimigos. Infelizmente, só uma parte dos palestinianos aceitam a nossa existência na região. Já há quinze anos que temos um acordo de paz com a Jordânia, útil para ambas as nações. Também com alguns países do Magreb, no golfo Pérsico, criámos diferentes níveis de normalização que acreditamos irão levar-nos a futuros acordos.
Falta-nos ainda percorrer um longo caminho de paz e tranquilidade, pois há factores que tentam destruir-nos. No século XX, o mundo democrático ocidental conseguiu derrotar as duas principais ameaças: Nazismo e comunismo totalitário. O mundo livre, de que Israel faz parte, enfrenta hoje outra ameaça existencial: o Islão radical que lidera o terrorismo internacional. Nós somos directamente ameaçados pelo Irão que apela à nossa destruição e tenta adquirir capacidade nuclear; e também pelas organizações terroristas do Hezbollah e Hamas.
Nem todos encaram o perigo como nós. A maioria na Europa prefere, tal como fez em 1938, enfiar a cabeça na areia. Chegou a hora da Europa abrir os olhos. A política de apaziguamento, levada a cabo por vários países europeus, como testemunhámos a semana passada em Durban II, não trará à Europa paz e tranquilidade. A política de alguns países, motivada pela ganância e não por valores morais, gera graves problemas e cria obstáculos na luta contra o terrorismo.
O Estado de Israel, ao celebrar o 61.º aniversário, prosseguirá a saga pela Paz com os seus vizinhos, mas não o fará numa posição de fraqueza. Pedimos aos nossos amigos europeus que nos ajudem a fortalecer o Processo de Paz no Médio Oriente, actuando com firmeza contra os elementos extremistas. Só desta forma, e não exercendo pressão sobre Israel, fortaleceremos os países árabes moderados, possibilitando-lhes estreitar os laços com Israel para benefício de todos
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Proporcionalidade e direitos humanos

O drama que estamos a viver na faixa de Gaza – com uma população civil já por demais martirizada a ser vítima de uma violenta guerra – suscita naturalmente, em todos os que têm na defesa dos direitos humanos uma preocupação primeira, a maior das consternações.
É verdade que é o Hamas que, de forma repetida, tem mantido uma crescente faixa de Israel sob o contínuo bombardeamento de mísseis, para além de levar a cabo operações militares contra o exército israelita, como é também verdade que foi o Hamas que resolveu, de forma unilateral, romper a trégua que tinha sido estabelecida. Contudo, perante a desproporção de meios militares e de vítimas causadas pela guerra em ambos os lados, é natural que a generalidade da opinião pública europeia considere estarmos perante uma tremenda falta de proporcionalidade, tanto quanto aos meios como quanto aos efeitos.
Também eu considero que esta guerra não irá contribuir para derrotar o fanatismo religioso terrorista de que o Hamas é apenas uma expressão local mas, pelo contrário, tenderá a reforçar a ideologia do terrorismo suicida (que os seus ideólogos denominam de "martírio").
O problema, aqui como em várias outras circunstâncias, é o de saber quais são as alternativas, e elas não apareceram até hoje, nem da parte do mundo árabe, nem da parte da União Europeia ou dos EUA. A experiência da última década demonstrou até à saciedade que para as organizações satélites do Irão a única solução aceitável é o extermínio de Israel. Cada vez que Israel recuou e entregou territórios ou prisioneiros, o único efeito que obteve foi incentivar a pressão contra si, nunca houve qualquer esforço para chegar a qualquer consenso.
Portanto, se excluirmos mais recuos unilaterais, teríamos de ter políticas muito mais inteligentes, que passassem nomeadamente pela colaboração dos países vizinhos, da Autoridade Palestiniana e da comunidade internacional na construção de alternativas viáveis para a população de Gaza ao fanatismo do Hamas. O certo é que isso não aconteceu e, portanto, a situação que vivemos agora é o resultado dessa ausência de alternativas.
Posto isto, é absolutamente inaceitável que a opinião pública internacional esteja a tentar não ver aquilo que é cada vez mais óbvio: a lógica do Hamas é exactamente a de sacrificar os seus civis como capital político para denegrir Israel, e tem-no feito de forma cada vez mais explícita.
Quando um alto dirigente do Hamas foi morto por um míssil em sua casa, acompanhado das suas quatro mulheres e vários descendentes, dias depois de começado o conflito e quando Israel tinha feito saber que iria procurar eliminar todos os dirigentes do Hamas que pudesse, a reacção daquele movimento foi de elogio. Ou seja, em vez de lamentar que perante uma situação de elevadíssimo risco um dirigente do Hamas pusesse em tão grande perigo a sua família, considerou que se tratava de uma atitude exemplar.
O Hamas está de forma deliberada a utilizar escolas, mesquitas e hospitais como plataformas para a sua guerra, exactamente com o objectivo de transformar o massacre da sua população civil em armas contra os seus inimigos, materializando a ideologia do terrorismo suicida na sua fórmula mais abjecta.
Para Israel, como tem sido claro, o valor da vida dos seus cidadãos é absoluto e tem feito tudo o que lhe é possível – e no caso da troca de prisioneiros, do meu ponto de vista, mesmo aquilo que nunca deveria ter feito – para preservar essas vidas.
Exigir "reciprocidade" nestas circunstâncias não tem qualquer sentido. Como dizia Rafsanjani – um dos antecessores de Ahmadi-Nejad – se um dispositivo nuclear israelita liquidar quatro ou cinco milhões de iranianos ainda haverá muitas dezenas de milhões de iranianos sobreviventes, mas em sentido inverso, isso significará o fim de Israel.
É aliás a mesma ideia que outro dos dirigentes do fanatismo religioso, Osama Bin-Laden, já tinha tornado célebre: enquanto vocês amam a vida, nós amamos a morte, ou se quisermos, um aggiornamento da velha expressão fascista: Que viva la muerte!
A lógica última da "reciprocidade" é a de tornar eficaz a ideologia do terrorismo suicida e é por isso que não devemos cair na armadilha deste argumento.

Bruxelas, 2009-01-08
(Paulo Casaca)

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