Vida de Caracol
Estamos de volta a BH, desde domingo à noite. Não tem sido fácil actualizar o blogue. A ligação à Internet nem sempre é possível e quando, finalmente, é possível somos 4 a tentar entrar em contacto com as respectivas famílias para matar as saudades. Torna-se, pois, incomportável tomar o tempo dos outros para escrever no blogue e colocar fotos. Desculpem-me todos os amigos que regularmente me visitam aqui.
A vida de caracol não é fácil. Desde domingo, já mudámos 3 vezes de casa. Não se estabelecem rotinas, e os ritmos são totalmente alterados. Aqui no Brasil tenho aprendido a valorizar a minha rotina portuguesa e as disciplinas espirituais. Por exemplo, sinto muita falta da solitude, dos meus recantos de oração e reflexão, da minha guitarra, dos meus livros.
O outro lado da vida de caracol é a possibilidade de entrar em casa das pessoas e conhecer as suas vidas e estabelecer ligações espirituais com elas. Nesse particular, Deus tem feito algo extraordinário aqui. De entre as mais de 1200 pessoas que constituem a Igreja aqui em BH, Deus tem-nos possibilitado a aproximação a umas 10 famílias com quem temos aprofundado os relacionamentos humanos e sobretudo espirituais. Temos partilhado experiências, vivências, vitórias e derrotas. Temos edificado e sido edificados. Acima de tudo, temos desenvolvido um só coração em Cristo, e isto é do agrado de Deus. O meu desejo é que o mesmo ocorra em Portugal. Que as famílias e os amigos se agreguem dentro de uma só disposição, a qual passa pela perfeita comunhão e pelo mesmo propósito de ser e fazer discípulos de Cristo.
E isto leva-me ao tema do Retiro. Não sei se vocês tiveram a oportunidade de acompanhar as sessões do retiro via internet, por isso vou deixar aqui algumas breves impressões daqueles 4 dias.
Entre muito do que foi dito, uma primeira conclusão foi tirada: Este é o tempo da História em que Deus está a levantar a Sua Igreja para levar a cabo uma grande colheita. De todos os cantos do mundo, escutámos histórias de homens e mulheres que Deus está a levantar para essa obra. Há uma convocação clara e determinada para a batalha.
Daqui passamos para a segunda conclusão. Este é um tempo de urgência. Não há mais tempo a perder com demagogias, planos e estratégias humanas. Três perguntas foram levantadas em relação a missões. Aqui vão elas: Quem vai fazer missões? Eu! Quando? Agora? Onde? Aqui.
E entramos na terceira conclusão. Se eu faço missão onde quer que esteja, então a qualidade do meu discipulado será o factor determinante para alcançar as pessoas. O foco deixa de estar em folhetos, campanhas evangelísticas, projectos missionários, e etc e passa para mim, para o cristão anónimo que diariamente se levanta e vive como um peregrino neste mundo. A missão é o resultado de uma vivência profunda com Cristo. Seremos obedientes aos seus mandamentos e estaremos à Sua inteira disposição para sermos conduzidos àqueles que ele deseja alcançar.
Então chegamos à quarta e última conclusão. Deus proporciona-nos "encontros divinos" na banalidade do dia-a-dia. O acrescento da Igreja não ocorre por eventos de massas, mas pela penetração diária da Igreja na sociedade. Temos assistido a diversos episódios aqui no Brasil que fundamentam esta realidade. Por exemplo: Na passada segunda-feira, estávamos em casa do Cristiano, juntamente com o Júlio. O Júlio é um dos obreiros da Igreja na região do Barreiro. Tem 40 anos e é reformado por invalidez por possuir apenas 20% da sua visão. Enquanto almoçávamos, o Júlio sentiu de Deus que deveríamos ir para uma praça porque Deus queria fazer algo ali. Depois da surpresa inicial, acedemos ir com ele. Depois de uns 5 minutos nessa praça, o Júlio reparou num adolescente que estava ali sentado já fazia algum tempo. Sem demora, saiu de perto de nós e dirigiu-se para o jovem. Meteu conversa com ele e, em menos de 2 minutos, estava a falar de Jesus com ele. Nós fomos chegando perto e ouvindo a conversa. Ao fim de um tempo de partilha e de exposição do Evangelho, o jovem abre o coração e diz: "Cara, isso é demais, hoje de manhã eu estava no meu quarto orando a Deus e dizendo que preciso da Sua ajuda porque eu não quero viver mais em pecado, o pecado me deixa muito mal". O jovem, de 18 anos pediu uma nova conversa com o Júlio e perguntou se podia trazer o primo para ouvir a mesma mensagem.
Nesee momento, a ficha caiu no meu coração. Quantas pessoas não fazem a mesma oração em Portugal? Quantas pessoas saem para a rua à procura de alguém que tenha a solução para as suas angústias e perplexidades? Quantas pessoas precisam que a minha boca se abra e proclame o Evangelho?
Está na hora dos Filhos de Deus perderem a vergonha e se exporem ao mundo. A candeia não foi feita para ficar debaixo da cama. Quem tem ouvidos para ouvir, faça!
1 comentário:
:) Vêm novos tempos, não é? ;)
Estou em pulgas, em pulgas.
Saudades.
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