sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

O dia menos esperado...

Há dias que não ansiamos, e hoje foi um deles. Não para mim, mas também! Passo a explicar: O meu amigo Rui foi hoje a enterrar a sua avó paterna. Para o Rui, tanto quanto para mim, a avó insere-se num contexto quase mítico, e com certeza glamoroso, da mulher que é mãe, avó, conselheira, amiga, líder espiritual e possuídora de um espírito de sacrifício inabalável que sofre no silêncio e que dá tudo pela família. Há qualquer coisa de profundamente espiritual na avó africana e os "putos" do bairro sabem-no muito bem. Talvez isto soe um pouco estranho, mas é verdade. Elas sobreviveram à perda dos seus lares e de tudo o que tinham construído ao longo da vida. Elas lidaram com o sentimento de fracasso dos seus maridos, na casa dos cinquenta e sem perspectivas de emprego, com a inadaptação dos filhos à "fria" sociedade portuguesa dos anos 70, elas choraram a separação das suas raízes e dos seus amados. Lutaram por manter as suas famílias unidas, mesmo quando tudo parecia quer desmoronar-se. Por essa razão elas são as nossas heroínas, as nossas mães negras, os nossos diamantes preciosos.
Hoje chorei por todas as avós que tenho e que tive, sim, porque eu sou um puto de bairro. Avó Tina, Avó Zaida, Avó Clô, Cota Joaquina, D. Celeste, Vó Lena e sei lá quantas mais, são e foram (algumas já finaram) as mulheres que me ajudaram a construir o carácter que possuo. Já me vão faltando as palavras...fico por aqui.

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