quinta-feira, 24 de março de 2005

Vale da Amoreira, Pica Pau Amarelo, Cova da Moura, Fontaínhas, Bela Vista

Tanto faz! É fácil fazer trocadilhos, trazer ao de cima recalcamentos da adolescência, suscitar sentimentos xenófobos por baixo dos panos, descarregar no preto as frustrações de um mau dia no emprego. Mas a verdade nua e crua é que só quem lá vive ou viveu pode falar com propriedade da natureza e dos actos dos que lá estão, mesmo que à priori estes sejam condenáveis. Creio que não se analisam estes fenómenos pelo que está à vista, mas pelas causas que permanecem no silêncio. Vejamos por exemplo: a falta de acompanhamento a todos os níveis dos refugiados da guerra colonial, a abertura à emigração africana para suprir a construção civil de mão de obra barata e ilegal, a falta de preocupação dos sucessivos governos para tornar a "assimilação cultural" um facto concreto. Veja-se em contraste o exemplo dos Estados Unidos ou da Inglaterra. Deixaram-se ao abandono sucessivas gerações de filhos de emigrantes que não estudaram, não aprenderam ofícios e que foram deixados ao esquecimento em bairros de lata, numa realidade surreal à margem dos Colombos e dos Vascos da Gama.
O que é triste é que a culpa vai ser sempre dos pretos, mesmo quando, como foi o caso, é um branco a matar. Afinal de contas, quem criou o monstro?

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