domingo, 17 de abril de 2005

Sr Raymundo

Sou um nostálgico assumido. Gosto especialmente de factos relacionados com a minha família e com recordações da minha infância.
Hoje encontrei um artefacto que faz parte do meu imaginário infantil. Quando era criança a nossa família tinha o hábito de viajar até à aldeia dos meus avós paternos, perto de Almeida e Vilar Formoso, na raia de Espanha. O meu avô levava-nos sempre a Fuentes de Oñoro, do outro lado da fronteira, ao supermercado loja do Sr Raymundo. Era no tempo em que ainda havia fronteiras com revistas às malas dos carros e BI's para apresentar, mas nós passávamos sempre pela porta do cavalo, conduzidos pela mestria do meu avô, uma vez que traziam sempre mais do que era permitido pela Guardia Civil. "El Raymundo", este presenteava-nos com inúmeras tabletes de chocolate, as quais enchiam de felicidade os restantes dias das férias. Hoje, voltei a encontra-las na Feira de VN. Vieram-me à memória lembranças muito bonitas.
Confesso que tenho saudade desse deslumbramento de cruzar a fronteira para um mundo desconhecido, onde tudo era diferente desde as casas, ao dinheiro, o pão, a língua, aos carros e até as pastilhas elásticas. Lembro-me também dos rebuçados de pinhão, dos chumbos para a pressão de ar do meu pai, do cheiro intenso a jamón e das bonecas "chorão" que a minha irmã tanto adorava. Enfim, talvez tenham sido esses momentos que me deram um grande gosto por viajar e conhecer outras realidades e culturas. Como podem imaginar, apesar de enjoativo, o chocolate soube-me mesmo bem.

Sem comentários: