quarta-feira, 6 de julho de 2005

Rosário, a Mãe Coragem

Quem olha para ela cedo se apercebe que algo não vai bem. As olheiras escuras cavam-lhe a órbita ocular, o semblante está descaído e as poucas palavras que profere mal se conseguem ouvir. Está ali à mais de dois meses, por causa do pequeno M., o seu terceiro filho. A sina repete-se, uma vez que os outros dois também nasceram prematuros. A diferença está no facto de que o M. nasceu com uma série de complicações que já obrigaram a duas operações e a muito sofrimento. Rosário e o marido conhecem o hospital e as suas rotinas de cor e salteado, mas isso não impede o sofrimento, pelo contrário, já aprenderam a ler os códigos dos médicos e enfermeiros antecipando as más notícias.
A Rosário é uma mãe de coragem. Levanta-se cedo para abrir o café que explora na Margem Sul, e a meio da tarde arranca para passar o resto do dia com o petiz. Diz o marido que entre gasolina, portagens e alimentação o estrago já vai "para lá de duzentos e tal contos". Mas essas coisas são de pouca monta quando se pensa que o nosso filho está "prá li" deitado numa encubadora a chorar de dor horas a fio.
A Rosário desfaz-se muita vezes em lágrimas e refugia-se nos corredores desertos da MAC para alíviar a dor, mas a verdade é que já granjeou o respeito e a admiração de todos que se cruzam com ela. Se não fosse por ela, esta semana tinha sido um autêntico pesadelo.

2 comentários:

Ana Rute Oliveira Cavaco disse...

infelizmente, precisamos ver situações piores que a nossa para vermos que não estamos assim tão mal. também tem acontecido comigo!

a mãe dos miúdos disse...

que a rosário e o seu petiz possam estar juntos e sem dor rapidamente.

Sónia