terça-feira, 15 de maio de 2007

Agora termino mesmo

Tiago, costuma-se dizer que quem coloca as perguntas controla a discussão e por isso compreendo a necessidade de veres as tuas respondidas. Lembro-te, contudo, que as minhas primeiras afirmações sobre as quais, habilmente extrapolaste, não são, de todo, novidade. Desde o Congresso Lausanne 74 que fazem parte do debate missiológico e eclesiológico em geral. Posso citar-te autores como David Bosch, Alan Hirsh, George Barna, Eddie Gibbs, Niebuhr, Brian McLaren, Wolfgang Simson, Robert Coleman, Lee Strobel entre muitos outros que têm estudado e reflectido sobre o estado actual do movimento evangélico e protestante. Nada que não seja falado, inclusive, em Congressos da Aliança Baptista Mundial, por exemplo. Os pontos não estão, certamente, para além de discussão e bastar-te-á uma observação desapaixonada da realidade nacional e da tua congregação para constatares essas realidades.
E, Tiago, creio que me julgas mal, se me enfias, despudoradamente, no saco do folclore evangélico que, por força da tua actividade profissional, conheces bem melhor do que eu. Sinceramente não creio estar na mó de cima, porque a minha comunidade não está estruturada para ser "seeker friendly". Por isso, não me revejo no restante da caracterização daqueles a que chamas os "sedentos" da blogosfera. Não podemos, contudo, negar que existe muita gente magoada, desiludida e profundamente vazia dentro das chamadas "igrejas tradicionais". Assim, e porque não me resta outra opção, digo-te no que acredito e falo da comunidade onde sirvo:
Na minha comunidade os dons são funcionais e não posicionais. Não confundimos a nossa função de líder com o estatuto que tantos parecem "apreciar" e almejar. Se sei qual é a minha função e as pessoas também, para quê para impor o estatuto? A minha autoridade vem do meu exemplo e das minhas convicções, não do que visto ou de onde falo quando ensino.
Não terá sido por isso que Paulo usou a ilustração do Corpo na Carta aos Coríntios? Por causa do estatuto tomar o lugar da função?
Assumo a minha liderança e sou exigente no ensino, no carácter e na ética. Somos dois líderes, ambos formados pelo Seminário Baptista. Temos mais um obreiro em formação na mesma Escola. O ensino não está aberto a qualquer um, pelo contrário, a exigência aumentou, e procuramos aplicar a nossa teologia, porque ela é, essencialmente, funcional. A noção que temos de "evangelizar a sério", é precisamente que a palavra "evangelizar" não existe, mas que cada cristão é "igreja" 24x7. A nossa vida é a nossa evangelização. Por isso abrimos as nossas casas durante a semana ao estudo da Palavra e também aos descrentes. As pessoas da nossa comunidade conhecem-nos no dia-a-dia e recorrem a nós. Os nossos cultos têm uma programação mínima, porque acreditamos que o Espírito Santo é quem o "dirige" e que estamos na casa de Deus para entregar e não para receber. A sinceridade do louvor é a que está no íntimo de cada um, logo não fazemos esse julgamentos nos outros, antes o exigimos de nós mesmos. E também não perdemos a reverência, pelo contrário, a certeza e a manifestação da presença do Espírito de Deus só aumenta o nosso temor e o nosso tremor. Damos ênfase à leitura das Escrituras, aos testemunhos, à oração individual e em grupo, e à intercessão .
Se calhar, estamos ambos a perder.
Abraço.

Só uma última nota: Existe a tendência para catalogar a Igreja Emergente como mais um modelo eclesiológico, mas no seu todo é muito mais do que isso. É um movimento complexo e não dirigido de Cristãos que, por todo o mundo, procuram um retorno da Igreja de Cristo à sua verdadeira essência, por outras palavras, a Igreja de Cristo como um agente da Missio Dei para transformação do Mundo. E dentro deste pensamento, qualquer modelo cabe, desde que seja essa a sua finalidade.

2 comentários:

Adilson Marques disse...

Caro Nuno,
Tenho seguido o teu diálogo blogosférico com o teu cunhado. Tenho achado interessante, no entanto, caso fosse um de vocês, teria essa conversa face a face, penso que seria mais fácil, porque a escrita limita o expressão do pensamento. Devo dizer que também sou um Baptista conservador, defensor da moral, contra o liberalismo e o excesso de música nas igrejas. Fiquei assaz impressionado com o escreveste sobre ti e sobre a tua igreja, apreciei bastante. Será que me podes dizer onde congregas regularmente? Mera curiosidade. Estou satisfeito com a minha igreja, penso que a Palavra é ensina correctamente e consegui ver um pouco da minha congregação na descrição que fizeste da tua. COntudo, devo dizer que lá dentro tenho muitas lutas, pois infelizmente há uma nova geração que está a surgir, a minha, em que o poder de compra é, de longe, superior ao da geração anterior e é bem visível a sua influência nefasta. Um abraço.

Nuno disse...

Olá Adilson. Obrigado pelas tuas palavras. Congrego na Igreja Baptista do Vale da Amoreira, entre o Barreiro e a Moita. Se quiseres mais indicações escreve para o meu mail: nuno_cesar@hotmail.com.
Olha, aí está um tópico muito interessante para ser debatido: O consumismo e a postura consumista em relação à Igreja e à fé.
Abraço.