Avô Zeca
Há dez anos atrás voltava eu de um dia muito bem passado na companhia de amigos, quando, à entrada do teu prédio, me disseram, a frio, que tinhas morrido. Senti pela primeira vez aquela vertigem agonizante que percorre todo o corpo, mas lágrimas não me sairam. Pensei na mãe, na avó, nos primos mais novos, e corri para dentro de casa a abraçá-los. O bairro em peso vestia o teu luto e confortava-nos, mas eu não chorava. No dia seguinte a igreja encheu-se de velhos amigos, de longe e de perto, tantos que te quiseram homenagear. Agradecemos a Deus pela tua vida e devolvemos-te ao pó. Mas eu não chorei. Fomos para a tua casa, para lanchar e descansar. Recordámos os teus melhores episódios. Havia torradas e chá como tu apreciavas. Mas eu não chorei. Foi preciso entrar no teu quarto vazio e perceber que não estavas mais lá para conversares comigo, para me jogares palavras difíceis em alemão, para me leres um poema, para me dares uma grande seca com as tuas cassetes de tango, para que eu me rendesse. Foi ali, deitado no teu leito de quinze anos de doença que chorei todas as lágrimas e me dei conta que um grande pedaço de mim tinha sido arrancado.
Já passaram dez anos! O que eu não daria agora para que pudesses conhecer a Sara e a Joana, a minha casa, de saberes que levo em mim tanto daquilo que eras. Tenho por consolo que a eternidade é tempo suficente para colocarmos a conversa em dia e para falarmos novamente sobre aquilo que mais te entusiasmava. Até lá!
7 comentários:
E, quem sabe, não há umas espreitadelas lá de cima?
que bom q é ter essa esperança...
Está com toda a certeza. É apenas um tributo.
Meu...
Brilhante!
Abração
:-)
Essa esperança dá-nos força! Um abraço Nunex!
Grandes palavras...absorvo, sinto e compreendo a 100%
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